DESVENDANDO OS CUSTOS DA QUALIDADE

CUSTO DA QUALIDADE

  1. Introdução

A gestão da qualidade ganhou o status de ferramenta gerencial com grande destaque devido ao grande sucesso nas indústrias japonesas após a segunda guerra mundial. O Japão se tornaria um laboratório de diversas ferramentas da qualidade que depois ganharia o mundo devido ao êxito obtido na sua aplicação nos processos de manufatura.

A aplicação de forma organizada e planejada de diversas ferramentas da qualidade, como Just-In-Time, cambam, C.E.P (Controle Estatístico de Processo) e outras ferramentas de análises e soluções de problemas, assim como técnicas de planejamento e gerenciamento contribuíram para a recuperação da economia japonesa do pós guerra, que mais tarde serviria de exemplos a ser seguido por diversos países.

Diante deste cenário um nome ganhou grande destaque, Dr. W. Edwards Deming desenvolveu uma teoria de gerência, conhecida como o sistema do “Conhecimento Profundo”. Este sistema proporciona o pensamento de que todo e qualquer aspecto da vida pode ser melhorado. Seus ensinamentos de sua filosofia de gerência no Japão resultaram numa transformação total no sistema produtivo japonês, que ficou conhecida como o “Milagre Industrial Japonês”. Dr. Deming foi condecorado pelo imperador japonês, na época, em reconhecimento aos seus métodos e teorias que proporcionaram o aumento da qualidade dos produtos manufaturados.

  1. História do Custo de Qualidade

A primeira preocupação com os custos da qualidade foi feita por Juran em 1951 no seu livro Quality Control Handbook.

Em 1956, Armand Feigenbaun aborda em seu livro Controle Total da qualidade e enfatiza a importância de medidas para a qualidade e propõe a classificação dos custos da qualidade e m quatro categorias Prevenção, Avaliação, Falhas internas e Falhas externas.

No início da década 80 os custos da qualidade ganharam maior força e atenção com os sucessos dos programas de qualidade implantados nas empresas e contadores e gerentes preocupados com os sucessos desses programas.

No início da década de 90 a preocupação aumenta com a competitividade mundial, as organizações começam a fazer a contagem de seus custos e a gerenciar juntamente com seus programas de qualidade.

  1. Conceitos de qualidade

Juran – Entende que a qualidade é “Adequação ao uso”

FeigenbaumEm sua visão qualidade é a determinação do cliente”

Crosby – A qualidade é vista como “Conformidade com os requisitos”

Resumindo, o conceito de qualidade vai muito além do atendimento as especificações, ou seja, pois não basta satisfazer as exigências dos clientes é preciso exceder o grau de expectativa dos clientes.

  1. Custo de qualidade

O custo da qualidade é uma ferramenta gerencial e tem como objetivo verificar e monitorar o processo de melhoria da qualidade através de seus custos, esse trabalho possibilita ao administrador vantagens importantes, como: maior lucratividade e melhor desempenho do empreendimento.

O custo de qualidade normalmente envolve dois grupos e quatro categorias, os dois grupos são: custos de conformidades e não conformidades, as quatro categorias são: falhas internas, falhas externas, avaliação e prevenção, sendo assim tudo que envolve esses fatores são custos de qualidade.

O custo da qualidade é atribuído a falta de qualidade ou o esforço necessário para obtenção da qualidade, a falta de qualidade são: as falhas internas e externas, o esforço necessário para obtenção da qualidade são: as avaliações e as prevenções.

Os custos da qualidade não têm correlação com os custos de desenvolvimento, produção, fornecimento de bens ou serviços, eles são especificamente contabilizados pela atribuição pela falta de qualidade ou pelos esforços despendidos para obtenção da qualidade e consequentemente agregar qualidade ao produto ou serviço e visa manter no mercado um produto ou serviço de qualidade.

Essa ferramenta da qualidade é de fundamental importância para o bom funcionamento do negócio, pois a eliminação do desperdício ou a diminuição dos custos de conformidades e não conformidades internas ou externas se identificados e contabilizados pode significar ganhos na lucratividade e melhoria da imagem da organização.

A identificação dos problemas e suas origens, a compreensão, as análises do comportamento do custo da qualidade, a contabilização e a tomada de decisão adequada são pontos fundamentais para uma boa administração dos custos de qualidade.

Muitos custos de qualidade ficam escondidos no próprio sistema, as vezes passam desapercebidos, outras vezes são ignorados e, portanto, não são contabilizados e a organização acaba arcando esses custos de qualidade, as vezes inconscientemente e outras vezes de forma consciente.

Quando a organização possui um centro de custo avançado os cálculos dos custos de qualidade são melhores investigados e facilmente identificados, possibilitando uma tomada de decisão mais rápida e eficaz.

A inclusão dos custos de qualidade de forma mais abrangente, varia de acordo com a compreensão, conhecimento e política da organização e muitas vezes custos invisíveis aos processos e aos produtos e que ficam escondidos no sistema, não são contabilizados para não aumentar muito o custo do produto e a organização opta por arcar com esses custos.

Quando a organização opta por não incluir determinado custo de qualidade, essa decisão deve ser muito bem analisada, para não correr o risco de aumentar outros custos de qualidade no decorrer do processamento dos produtos.

Seria importante que as organizações, principalmente aquelas que não possuem centros de custos avançado, com boa tecnologia e softwares avançados, faça um levantamento e estudo sobre os custos de qualidade e elabore uma lista sobre todos os custos da qualidade para facilitar a identificação, tomada de decisão, contabilização e inclusão desses custos invisíveis.

Os métodos alternativos costumam aumentar os custos de qualidade e muitas vezes por falha no próprio sistema são contabilizados de forma erronia e são considerados os métodos tradicionais sem nenhum critério, pois deveria ser feito um levantamento e um comparativo quando há alteração nesses métodos, para verificar se houve redução ou aumento de custo da qualidade nessas alterações.

  1. Categorias de custos da qualidade e sua aplicação

Os custos de qualidade são normalmente enquadrados em quatro categorias operacionais, são elas:

  1. Custos de falhas internas: São os custos provenientes de defeitos identificados antes da entrega dos produtos ou serviços ao cliente ou lançamento no mercado, ou seja, perdas de insumos, gastos com ações corretivas, perdas de material, análises de falhas identificadas, inspeção, testes e retestes, retrabalhos, refugos, serviços incompletos e outros.
  1. Custos de falhas externas: São os custos decorrentes de falhas ocorridas após a comercialização do produto ou serviço, como manutenção em garantia, tratamento de reclamações, ações corretivas, retrabalhos, custos de concessões ao cliente, devolução de material, concessões ao cliente, assistência técnica, entre outros.
  1. Custos de avaliação da qualidade: São os custos referentes a procedimentos de inspeção, testes, ensaios ou auditoria que tem como objetivo avaliar o nível da qualidade do produto ou serviços, como inspeções, ensaios, testes em geral, ensaios destrutivos, custos de preparação de testes, custos de controle de compras, auditorias de qualidade, infraestrutura laboratorial e manutenção de equipamentos de testes, ajustes de inspeção de matéria prima, setup, entre outros.
  1. Custos de prevenção da qualidade: São os custos relacionados a procedimentos destinados a reduzir os custos de falhas ou de avaliação, estes incluem os custos de planejamento, treinamentos, criação e manutenção de sistemas de qualidade, equipamentos de controle, desenvolvimentos de novos produtos, análises e aquisição de dados, relatórios de qualidade, entre outros.

Os custos da qualidade provenientes de defeitos, refugos e falhas facilmente identificadas são contabilizados quando as empresas dão a devida importância aos desvios de qualidade ou possui um centro de custo avançado que possibilita a identificação desses custos, porém em alguns casos os custos de qualidade não são identificados e outras vezes quando identificados são ignorados, e portanto não são contabilizados, muitos desses custos ficam escondidos no próprio sistema, como:

  • Especificações incompletas
  • Atrasos de fornecimento
  • Erros de contagem de material
  • Emissão de documentos para adequação
  • Reclamações não atendidas
  • Reemissão de documentos
  • Alteração de projeto
  • Estoque obsoleto
  • Horas extras não contabilizadas
  • Expedição errada de produtos
  • Devoluções de materiais
  • Perda de imagem
  • Falta de planejamento
  • Material com deformações
  • Execução de trabalho com documentos desatualizados
  • Estoque de material não conforme
  • Etc.

Algumas falhas internas passam desapercebidas durante a contabilização que são aquelas proveniente de aquisição de materiais ou insumos e acabam não incluídos no custo da qualidade, exemplos:

  • Compras
  • Falhas devido a rejeição de produtos e serviços comprados 
  • Custos de substituição de materiais, custos adicionais para substituir os materiais comprados, rejeitados e devolvidos.
  • Custos de ações corretivas sobre o fornecedor – Não incluir os assumidos pelo mesmo.
  • Custos de reparações sobre materiais do fornecedor e não arcado os custos pelo mesmo.
  • Produção 
  • Custos de sucatas 
  • Custos (Diretos, indiretos e materiais) relativos aos produtos ou serviços dispostos por inviabilidade de recuperação.
  • Custos de produtos por tornarem refugos antes da entrega ao cliente.
  • Custos indiretos (Transporte, manutenção e armazenamento), deduzir o preço do material recuperado.
  • Produtos classificados como de segunda (Peço reduzido devido a defeitos)
  • Despesas resultante de venda com preço reduzido
  • Custo de estoque imobilizado até a venda

Algumas empresas fazer a contabilização em planilhas devido a praticidade com a utilização de indicadores, porém esse método causa alguns desgastes e fadiga as pessoas e certa limitação quando as falhas não são provenientes de mão de obras, material ou recursos aplicados a sua correção, outras empresas utilizam a técnica da curva ABC.

Alguns métodos de avaliação podem ser feitos com a utilização do auxílio de listas de verificação, em conjunto com gráficos de Paretos para facilitar a contabilização e medir a evolução de ocorrências de falhas e consequentemente o custo da qualidade.

Nota: A tabela a seguir mostra alguns exemplos de falhas sobre o custo de qualidade de acordo com o grupo e categoria, não mostra as falhas em sua totalidade, pois muitas são características de cada processo, produto ou serviço fornecidos e estão restritas a cada organização.

As ações preventivas nos processos, produtos e serviços, pode reduzir os custos de avaliação e custos de falhas ao longo do tempo de forma progressiva, daí a importância do trabalho ser mostrado através de indicadores para mostrar a evolução e a melhoria contínua dos processos, produtos e serviços.

Seria importante também mostrar através de indicador separado os custos relacionados a: Defeitos encontrados no cliente (Produto ou serviço), na planta do fornecedor (Corrigir o defeito) e no SGQ (Prevenir defeitos e promover a melhoria contínua da qualidade), a escala dos defeitos pode priorizar a melhoria contínua dos processos, produtos e serviços fornecidos.

A redução dos custos da qualidade tem influência positiva na política de preços da organização e possibilita novos investimentos com retorno garantido.

Custo da Qualidade = CQ = Custos de Conformidade + Custos da Não-Conformidade.

Algumas empresas quando não possuem um departamento específicos e com sistema avançado, com software para cálculos e contabilização de custos, desenvolvem planilhas em Excel com inclusão de formulas específicas para facilitar a contabilização dos custos em geral, incluindo os custos de qualidade.

A adoção de medidas que visem identificar falhas e ações preventivas podem ser feitas através de reuniões com a participação de grupos operacionais ou gerenciais com a utilização de ferramentas da qualidade apropriadas, ou através do uso de brainstormings, também conhecido como tempestade de ideias e também reuniões de CCQ-Círculo de Controle de Qualidade.

Muitas empresas desenvolvem sistemas de automação com a finalidade de deduzir os custos no processo, as perdas e consequentemente os custos de qualidade.

Esses são apenas alguns dados informativos que poderão ser empregados, contabilizados e incluídos no custo da qualidade, porém essas informações variam de empresa para empresa, ramo de atividade e a política adotada pela empresa, além de normas relacionadas a atividade da organização.